quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O Brasil, os brasileros e outros países




O Brasil, os brasileros e outros países
Já ouvi dizer que quem vai a um país à procura de defeitos, é só isso que consegue ver. Há brasileiros, japoneses e gente de outras nacionalidades que procedem dessa forma: procuram defeitos. Acho que são pessoas amargas e de mal com a vida. Bem, há sete anos moro no Japão e adoro o país e muitas pessoas por aqui. Tenho poucos amigos japoneses, mas gosto desses poucos. Não posso negar, obviamente, que há muitos japoneses dos quais não gosto e, em igual medida, não devo esconder que há muitos brasileiros no Brasil e no Japão que também não gosto. Também tenho consciência de que tanto de um lado, quanto do outro, muitos também não gostam de mim. Isso não importa, faz parte das relações humanas. O que não é tolerável é perder o respeito. 

Sobre o Japão, não me interessam os problemas de ijime dos japoneses quando praticado entre eles. Menos ainda, me interessam os suicídios e todos os males que por aqui acontecem. Tenho duas razões para me sentir indiferente: 1) porque tenho tantas coisas bonitas para ver e tantas pessoas fantásticas para com elas falar que não vejo motivo para alimentar coisas e relações amargas; 2) Tenho muitas coisas boas e úteis para fazer que não tenho tempo para os problemas que não são meus. 

Depois dessas duas razões, concluo que os problemas do povo japonês, são problemas dos japoneses e estou certo de que somente eles podem resolvê-los. Não precisam de mim. Do mesmo modo, os problemas do Brasil são dos brasileiros! Pronto! Não falo mal do Japão, nem dos japoneses porque tenho alguns princípios que não me permitem. Eu quero ser assim e me responsabilizar por ser assim.

 Há uma coisa, entretanto, que me incomoda muito: detesto quando pessoas me fazem referências ao “jeitinho brasileiro”. (Este termo não inclui "apenas" algumas pessoas, ele é generalizante pela própria semântica). Não são poucos os colegas de trabalho que já me fizeram esta referência. O que é imperdoável é que os tais são ligados ao mundo intelectual e, por este motivo, deveriam ser mais inteligentes ou, no mínimo, entenderem que pesquisadores brasileiros do passado que teceram essas ideias o fizeram quase que concomitantemente a um momento em que as teorias e ideias racistas eram disseminadas pelo mundo, ou seja, era um momento em que se procuravam comparar dados para provar a superioridade de uma raça em oposição a outras. Ou, então, poderíamos admitir também que faz algum sentido, hoje em dia, defender teorias como, por exemplo, de Charles Murray e Richard Herrnstein? (The Bell Curve: Intelligence and class structure in american life).

O tal “jeitinho brasileiro”, de fato, existe, mas vamos ser sinceros: somente no Brasil? É por pensar que o “jeitinho brasileiro” é característica apenas de um povo oriundo da América do Sul que fala português, que alguns estrangeiros têm problemas com alguns brasileiros no Brasil e depois saem dizendo coisas que não deveriam. Enfim, quero dizer que adoro japoneses, brasileiros e outros povos elegantes que não têm qualquer necessidade de ficar apontando os problemas uns dos outros. 

Quero dizer também que qualquer suposição ou defesa de um país como portador apenas de maravilhas, não passa de pura bestialidade e, em igual medida, concordo que - ao defenderem apenas as coisas boas de um país ou certa superioridade deste mesmo país em detrimento de outro - muitos não conseguem passar dos limites da ingenuidade tola ou da ignorância cega. Apesar de todos os defeitos de que possa ser acusado, o Brasil é o meu país assim como os problemas ali existentes. É com eles que devo me preocupar. 

Acho de uma inutilidade tamanha o uso de dados positivos do Japão ou de qualquer outro país para classificar o Brasil como sendo o pior lugar do mundo para se viver. É um direito facultado a qualquer um querer ir ao paraíso, mas não é preciso amaldiçoar a origem e o caminho que possibilitaram chegar até lá. 

Por muitas razões, também acho que, assim como no Japão, no Brasil e em outros países existem pessoas geniais e fantásticas e elas são a prova mais importante que permite mostrar que na escala da evolução humana, apesar de tudo, há seres que evoluem e por tais motivos se tornam distintos. O contrário também é verdade.

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