terça-feira, 24 de setembro de 2019

Religião


Religião



Eu vi um site e gostei muito. Neste site, ouvi muitas músicas ou hinos e fiquei feliz com eles. Não pertenço a qualquer denominação religiosa, mas, às vezes, converso sobre o assunto com amigos ou colegas. Nunca tive o intuito de convencer alguém de minhas verdades ou idéias e também não é do meu caráter aceitar a sedução humana sem provas lógicas razoáveis. Eu aprendi a pensar e também aprendi que todas as idéias filosóficas que criaram o homem como Ser livre de idéias pré-concebidas foram questionadas. Embora seja passível de discussão acredita-se que o homem é um ser tendencioso, possui suas convicções políticas e religiosas. Neste caso, seria impossível a pretensa vontade de esvaziar o homem para torná-lo capaz de interpretar as coisas de Deus sem idéias pré-concebidas.

Eu, por exemplo, sou uma pessoa que tenho a convicção de todo meu coração e alma que creio em Deus. Por mais que eu tenha buscado, a ciência e a filosofia não me trouxeram outra resposta senão esta: acreditar em Deus. Minha incerteza é quanto aos “deuses” de que falam os diferentes e autorizados pastores ou padres. Auto-intitularam-se doutos nas coisas de Deus e, como tais, agem como se introduzidos ou manifestados por Ele para falar às “ovelhas”. Dizem basear-se na palavra de Deus para determinar o que é certo e o que é errado, quem está condenado e quem está salvo. Que poder não é?! Até a pouco suspeitava que apenas a Deus pertencia a vingança. Mas, vejo que alguns já adiantaram a tarefa e sentenciaram à perdição eterna a quem, por exemplo, bebe vinho. (não existe pecadinho ou pecadão, não é verdade?).

Desde a fundação do mundo, as forças dos opostos de debatem e dentre estas há uma cuja proposta é salvar e a outra, condenar o homem à morte eterna. Pelo que se depreende das escrituras, Cristo veio ao mundo e morreu para salvar o homem, justificando-o perante Deus e, se não fosse essa a causa, em vão teria sido sua vinda e morte aqui no mundo. De outro lado, as próprias escrituras afirmam que o diabo foi lançado do céu à terra com a função de acusar o homem perante Deus e levá-lo à perdição e, incumbido desta causa, lutará sem trégua invocando inclusive a bíblia para incriminar o homem. Esta á sua função!!

 Desse modo, aquele que estiver (o pastor, o padre ou qualquer outro nome que se possa designar aos que dirigem) do lado da força de Deus sempre terá em seu coração a paz e a complacência e o seu juízo se firmará na seguinte premissa: Orai pelos fracos, tende a caridade... mas os adeptos da outra força nunca tardam em pôr a sua linguagem a serviço da acusação, da contenda, da condenação, da sentença final. Não são raros os julgamentos procedidos com base em termos do tipo: talvez... isso pode ser interpretado assim... podemos pensar assim... embora não seja possível afirmar através das escrituras... na maioria dos casos a bíblia... é um fato geralmente aceito...etc. 

Por ventura, seria a mera suposição - baseada em algum juízo de valor - algo suficientemente justo para julgar os atos de alguém? Onde andaria a justiça se fosse baseada em interpretações? Bem, para o Diabo e  seu time qualquer argumento é válido! Não lhes interessa a misericórdia, o bom senso, a caridade. Simplesmente, apelam à lei cega da condenação, da contenda. Até a lei do próprio homem que é falha não pretende proferir sentenças com base em suposições e condicionais, mas as normas dos profetas e discípulos do mal são claras: condenar!!

Não obstante, tomando por base a idéia de que Deus é o criador de todas as coisas 

Crônica do trem II

Crônica do trem II

Putz!!  

Estou no trem, a garota ao meu lado tem um shopping inteirinho de maquiagem dentro de uma bolsa. Durante a  longa viagem, abre a tralha toda e resolve se embelezar. Abre um espelho e manda ver!! A coisa nunca acaba e desconfio que vai durar até a próxima semana ou até eu perder a paciência e der uma lambida nos cremes dela... o homem do lado, põe-se a dormir. Se não bastasse, ainda ronca. O que eu fiz?! Que me lembro, nunca preguei chiclete ou catarro no altar...

Ela já passou 43 cremes claros e 14 de cores mais carregadas. Dentre estes, 28 são mais líquidos e 11 são mais secos...
Para completar, o dorminhoco se vai, senta-se uma senhora no mesmo lugar, ou seja, ao meu lado. Imediatamente, ataca de unhas e dentes (se é que tem algum) um pacote de bolacha de sabor morango. O cheiro invade o vagão inteiro. Não satisfeita, saca de um segunda bolsa que está dentro de uma terceira, uma banana e descasca a bicha e: “nheck! Nhech!! Saem-lhe algumas lágrimas dos olhos, não sei se de prazer ou de desgosto...

Assim, chegamos a Shinanomachi. O trem lota terrivelmente. A gorda dos cremes percebe que chegou na estação onde deveria descer com calma, só que o ato de maquiar não a permitiu notar que a chegada se aproximava. De repente, salta juntando as 12 bolsas, todas cheias de maquiagem, garrafas de chá, sanduíches e suponho que mais alguma coisa (talvez algum pedaço de açafrão) e avança na direção da porta, mas o movimento é semelhante ao de uma anta fugindo de uma onça. Ao sair toda esbaforida, escapa-lhe do pé esquerdo o tamanco vermelho Luiz XVIII que ficou preso à porta que se fechou logo atrás dela. Pronto! Está armada toda a confusão porque o trem avança, mas o tal Luís XVIII vermelho vai sofrendo duras escoriações até que o maquinista percebe e dá uma freada que provoca um solavanco tremendo fazendo a senhora ao meu lado engolir inteira a segunda banana! A turma toda é empurrada para a frente causando o maior reboliço. Dispara-se o alarme e o trem para. Vêm os técnicos. Depois de longos 20 minutos, encontram o pobre Luís XVIII quase vermelho e já sem utilidade... 
Pronto! A gorda, apesar de ensebada, vai ter de andar com um pé calçado e outro sofrendo.

Segue a viagem. Entre os novos passageiros, entrou um doido que só foi percebido quando gritou a toda a altura: "Pega!!! Pega!!! Houve um tumulto como nunca tinha visto! Alguns passageiros se agacharam pensando tratar-se de tiros. Um senhor que dormia sentado em um banco à minha frente, com a boca aberta, levou um susto de parar o coração!! Com o solavanco, deixou saltar a dentadura que caiu entre os passageiros, agora atordoados. Ainda sem entender o que se passava, o senhor, agora com a boca murcha, tentou agarrar a dita dentadura bem no meio da confusão. Quando pensava em abafar com as duas mãos a desejada dentição, eis que uma senhora mudou o pé do lugar e viu logo duas mãos abarcarem com toda a força o seu pisante! Neste momento, pensou que o "pega!" se referia ao seu pé e deu um agoniado grito: "sooooolta!!" 

A confusão que jé andava a tantas, ferveu! Alguns homens ameaçaram a bater no doido pensando que se tratava de alguma trama entre o doido e o velho. Entre as bofetadas e bolsadas, um outro homem com uma sacola de goiabas, esqueceu-se da fragilidade do seu embrulho e zás na cacunda do doido. As goiabas saltaram como balas perdidas em direção aos quinze lados do vagão. Alguns passageiros ficaram literalmente com cara de goiaba. 

O senhor da dentadura e a mulher do pé enfrentavam provavelmente, uma das maiores pantominas de suas vidas. O problema é que ao se levantar, o velho deu-se com a forquilha da mulher por baixo da saia. A coisa ficou feia porque a mulher batia-lhe com a bolsa e ao mesmo tempo tentava desvencilhar-se do velho. Ele, por sua vez, com as duas mãos tentava escapar sem saber onde estava porque não podia ver nada em meio à escuridão que se meteu. A cena, ora parecia uma tourada com a mulher montada no cangote do velho, ora parecia uma briga de cachorros ensacados. Alguém aciona o botão de emergência do trem. Neste caso, a parada é sempre muito brusca, pois pode tratar-se de algum atentado ou coisa semelhante. O trem para como uma matada de bola no pé de um habilidoso futebolista. Minha Nossa Senhora Desatadora dos Nós!! Nunca tinha visto uma confusão que já era tamanha, virar um monstro! Na parada do trem, os passageiros foram jogados para frente como se fossem batatas. 

Parado o trem, o velho tinha desmaiado, a mulher toda suada, enfim, tentava se ajeitar. Um outro homem foi logo socorrido porque a gravata enganchara num parafuso e estava quase lhe enforcando. A língua já estava arroxeada. Um rapazinho do cabelo de gel, agora parecia um Galo da Serra com o topete do tamanho do mundo. Um outro homem, teve o cinto arrebentado e agora segurava as calças com uma das mãos. Os botões das blusa de uma outra mulher, tinham voado sabe lá para onde!! O suspensório de um outro estavam alojados na ponta de um guarda chuva. O doido, coitado, estava caído no corredor do trem todo "assafronhado", de bunda para cima, mas ainda respirando. Enfim, abrem-se as portas do trem e os passageiros saem aos poucos. As pessoas dos outros vagões pensaram tratar-se de um atentado. 

Enfim, vêm os socorristas aos gritos de "abram caminho!", acionam-se a ambulância, para-médicos, engenheiros da companhia do trem, policiais, graxeiros, jornalistas, radialistas, enfermeiras, foguistas, acendedores de lampião, pastores, padres, vendedores de funerárias etc. Todos vão correndo e à medida em que avançavam ouvem o que os passageiros estavam relatando. Um homem falava de arruaceiros. Uma mulher jurava tratar-se de uma briga. Um rapaz afirmava ser um grupo do UFC. Uma outra mulher jurava ter visto o diabo vestido de zorba verde entrando por baixo da saia de uma passageira o que não deixou de ser atestado por uma terceira senhora que ainda acrescentou que o diabo tinha perdido até os dentes! Mais à frente, já quase no vagão do episódio, um outro falava de um bêbado. Enfim, quando chegaram todos os socorristas, com seus extintores, martelos, serras elétricas, escadas, tubos de oxigênio, fita métrica, água oxigenada, mertiolate, materiais de primeiros socorros, puseram-se a entender o que tinha ocorrido. Mandaram todos saírem do trem e os policiais entraram pé-ante-pé, pois podia ser algum terrorista que se escondia deitado em algum lugar. 

Enquanto os policiais cuidavam de achar o terrorista, os para-médicos, enfermeiros, técnicos, engenheiros esperavam do lado de fora a liberação da polícia para adentrar no vagão. Feito isso, uma equipe foi logo socorrer o doido, enquanto outra tentava avivar o velho que ainda estava desmaiado. Uma terceira equipe perguntava se tinha mais alguém ferido ou coisa assim. Foram identificadas pequenas escoriações e aranhões. Mais severamente, uma mulher estava com as orelhas sangrando porque os brincos lhe tinham sido arrancados. Um homem tinha o pé direito virado para trás. Sim, ao contrário. Um outro tinha o olho roxo, e uma senhora só tinha 9 unhas nos dedos da mão porque a outra lhe fora arrancada! 

Enfim, feitos os primeiros socorros, o velho ainda custava a voltar a si. Deram-lhe uma água, fizeram-lhe massagem, puseram-lhe oxigênio e tal. Trouxeram-no para fora do trem de modo que todos podiam acompanhar o tratamento. Aos poucos, o velho, foi se recobrando da tragédia. Os médicos perguntavam-lhe coisas para saber se já estava consciente. Finalmente, depois de alguns minutos, o velho, já sentado, pois se a olhar à  volta tentando entender que tragédia tinha sido aquela. Então, um médico pergunta-lhe o que tinha acontecido. Não sei, meu senhor. Ouvi um grito tremendo e assustei-me. Logo em seguida, acho que entrei em algum túnel porque não conseguia ver nada, só ouvia pessoas gritando e alguém me batendo. Lembro-me também que o tal túnel fedia a quiabo!  De resto, não me lembro de mais nada.

Enfim, todos passageiros agasalhados a viagem segue e espero que a próxima viagem seja marcada por um caso de amor!



Crônica do trem

Crônica do trem


A moça sentada quase à minha frente, está tomada pelo sono da morte. Pelo jeito, nasceu mesmo primeiro que o sono. Pende-se para um lado e para outro numa luta doida para se manter, pelo menos, sentada e não cair de vez no banco ou cair do banco. 

De repente, olho para o lado, mais à frente. Um senhor magro usando boné e com uma bolsa de alpinista, como se não houvesse mais ninguém ao seu redor, escova os dentes tranquilamente dentro do trem. Escova... escova.... ôpa!! Parece que a escova lhe atingiu numa área sensível o que lhe rende um pulo e algumas caretas. Subitamente, tira da bolsa um lata com tampa e lança dentro o cuspe com a sujeira dos dentes... fechada a lata, põe-na dentro da bolsa. Saca de uma outra bolsa uma bolsinha menor onde ajeita a escova e acomoda-a dentro da mochila.

A pobre moça continuava sua luta para não deitar definitivamente no banco do trem ou cair no corredor. Quando de repente, cai de cabeça ao colo de um senhor cuja barriga lembra a um pote de barro bojudo de tão protuberante. Ele também cochilava levemente. Por azar, o pescoço da moça se enroscou na alça de uma bolsa preta que o tal senhor levava a tira colo e, então, começa a grande confusão: o senhor desperta-se em estado de grande desespero, pois se vê ali, dentro do trem, enroscado com uma moça jovem e linda. Num esforço atabalhoado  para se livrar da moça, puxa a bolsa para si, mas quanto mais o faz, mais os cabelos da moça se entranham no corpo dele. A moça, por sua vez, desperta-se do sono da morte sem entender o que se passava, e imediatamente tenta com dois braços, se livrar da alça da bolsa que lhe envolve o pescoço, cabelos e tal. O problema é que os dois foram despertados por essa situação inusitada, sem saber onde exatamente estavam e sem ter a chance de poder interpretar o contexto. Enquanto a moça esforça-se para seu lado, o senhor puxa a bolsa para si com mais força. Uma senhora próxima a mim, diz: “que barbaridade é essa, meu Deus!!” Algumas pessoas tentam ajudar para que ocorra o desenlace, mas a coisa parece piorar porque em tempo de acusações, o tal senhor pode ter, no mínimo, sua vida destruída e, na média, parar na prisão. 

Complica-se tudo porque uns fachos de cabelos longos da moça se enroscam em um dos botões da camisa do desesperado senhor! Este está agora em estado de pânico, com os olhos esbugalhados e suando feito chope gelado! A moça, por seu lado,  com a cabelança toda envolvida na alça da bolsa e presa ao botão do senhor, tenta sem sucesso, desprender-se. 

Para o trem, a cena prossegue e o senhor deveria descer nesta parada. Os passageiros que entram olham sem saber se é uma briga ou uma tentativa disso

O senhor arrasta-se na direção da porta puxando com as duas mãos a bolsa cuja alça está mais do que nunca atarracada, tal qual uma sucuri doida, ao pescoço da jovem. O botão não suporta a pressão e explode batendo na janela de vidro do trem, o som é similar ao daquelas balas de revólver em filmes de faroeste americano. Uma senhora que quase foi (neste caso, não baleada, mas) abotoada, abaixou-se tentando se proteger de um próximo ataque de botões. 

Bem, eu tive que descer na estação que mencionei e não vi o final da história. 

Posteriormente, depois de ter passado em um café e tal, de dentro de um ônibus  que me levava à estação próxima à universidade, vi, provavelmente, a moça do trem ... mas coitada, parecia uma galinha choca... o cabelo que era tão lindo e comprido, agora parecia ter sido cortado às pressas, de tal forma que se parecia mais uma nhambu desconsolada...

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Atenção!! Atenção



Atenção!! Atenção

Atenção!!! Atenção!!!
Chegou a hora da despedida!
Sou um homem desimportante para você...
Chegou a hora de jogar fora muitas coisas...

Vou jogar fora toda a saudade,
Todo o desejo que você me ensinou a ter
Vou jogar todo o sentimento especial por você
Jogarei a lembrança de uma época bonita que foi vivida.

Eu sei que despedir de você,
É despedir também um pouco de mim...
Despedir do jeito que eu era antes de conhecer você.
Vou aceitar que agora fiquei diferente.

Vou jogar fora o teu olhar...
Vou jogar fora o gosto do teu beijo...
Vou jogar fora as carícias tuas
Vou jogar fora a vontade de te ver...

Ah! Tem o cheiro dos teus cabelos!
O que devo fazer com isto? Jogar fora também?
E os momentos em que estivemos juntos?
E você? Que devo fazer com você? Eu já sei...


Agosto de 2010


domingo, 22 de setembro de 2019

Fotos Japão





Você insiste em ter um amigo




Você insiste em ter um amigo

Você insiste em ter um amigo.
Resiste, finge, suporta e permanece.
Eu vejo, sinto, desejo e não compreendo.
Vem! Esquece as fronteiras, os limites!!

Vem! Escuta a voz do vento!
Faz de conta que já está na hora!
Senta aqui junto a mim, escuta o som do tempo!
Escuta o som da lua andando!

Você vai sentir que há mistérios que arrepiam
Não tenha medo! Eu estou aqui e sou forte!
Eu sou o cavaleiro que você pediu pra ver....
Eu sou o anjo que te protege na noite escura.

Vem! A noite está fria... fria...
Vou esquentar um pão e comer com você.
Vou acender uma fogueira e te contar histórias.
A água esquenta e vou fazer-te um chá de flores.

Se você não quiser nada disso, posso partir!
Eu sei o que quero: partir ou chegar.
Sou da paz, sou da vida e ouço a minha voz.
Não permita que eu, de repente, parta!

O fogo vai apagar, a água esfriar o pão ficar duro.
Você vai acordar e não haverá mais jeito...
Você é um belo ponto de chegada.
Mas eu posso adorar a beleza do trajeto

Eu queria você aqui



Eu queria você aqui

Queria que você estivesse aqui
Mas não dá mais, não é mesmo?
Queria te contar boas histórias
Queria tocar violão e cantar com você

Hoje, restam-me alguns objetos:
Um cartão amarelo de aniversário
Um papel onde você escreveu algo
Uma xícara que você deixou aqui

O nosso gato está tão velhinho
Certamente triste e com saudades
O nosso rádio nunca mais tocou
Eu também emudeci, devagar...

Queria ouvir suas histórias
Onde você está todo esse tempo?
Não dá mais, não é mesmo?
Você se foi, se foi... sumiu...

O eco do tempo te levou
Deixou-me a hora dura,
Deixou-me o vazio
Deixou-me aqui com um violão....

A terra cobriu tudo o que era belo
O silêncio calou a sua voz
O porto chegou-te rápido
Já não há mais trajeto...

A lua é minha única luz
A noite minha companheira
O vento minha sintonia
Você minha ausência constante

Que posso eu fazer agora?
Entoar-te uma canção?
Procurar-te nos vales das montanhas?
Diga-me, por favor, alguma coisa...

Parodiando (Nossa Sé)



Parodiando (Nossa Sé)

A nossa Sé de Brasília,
balcão de dinheiro, whisky, pinga, farra e foguete,
é um presépio de bestas ensandecidas
Do outro lado já não gritam Janaínas
Do outro lado calam-se os Reales
Depois de Lá, tem um  presépio de Bicudos bestiais

A nossa Sé de outrora
empunhava discursos de salvação da Seita toda
Agora são outros carnavais ,
Deixem o Rei Momo sambar!!

Os carneiros ou os patos
que bradaram contra certas pragas
agora põem-se a comer do mesmo milho
De outrora, Agora o enredo já é outro!!

Enfim, deparo-me com você

Enfim, deparo-me com você


Enfim, deparo-me com você, em um lugar qualquer...
E para meu maior espanto e desencanto, abraças-me...
Que coisa... que coisa.

O outono vai terminar outra vez

O outono vai terminar outra vez


O outono vai terminar outra vez...
As folhas vão cair... cair...
Os dias vão ficar frios... frios...
O vento rouco não moverá os taquarais

O acorde do pôr do sol soará mais breve
A noite será minha companheira de sempre
A semiótica do silêncio: o acalento de mim mesmo.

Na certeza de que um tempo vai e outro vem
Eu me resumo a um instante no tempo e no espaço
Eis o que posso ser: a folha que tem medo do vento...

A última chance



A última chance

A última hora
A última chance
A última vez
O último olhar
O último adeus... frio!!!

A última curva de um tempo sem gosto...
Tanto esperar e eis: o último encontro.
Providência da vida? Se foi, não sei.
Um pesar, um olhar, um desencanto...

Em algum lugar...

Em algum lugar...

Era primavera, estava um pouco frio, chovia uma chuva fina e constante. A varanda, feita de pedra, madeira e vidros, dava para o mar. Havia ali bem perto uma mesinha de madeira rústica com algumas queimaduras de cigarro -  retrato de horas de reflexão - Naquele dia, o mar parecia mais imenso do que nunca. 

Na rede, estávamos nós que, sem combinar nada, ficamos muito tempo em silêncio olhando a chuva e o mar. Se eu morresse naquele dia, morreria feliz, mas confesso que sentiria muitas saudades  do seu sorriso, do seu jeito, da sua voz, das suas brincadeiras, enfim, sentiria saudades de você - inteira!

Fica aqui junto a mim



Fica aqui junto a mim
Fica aqui junto a mim...
Veja a velocidade do rio...
Escuta o som do vento...

Escuta o som dos bichos
Vidas manifestas, exatas...
Há ritmo, melodia, cadência...

Às vezes, há uma partitura estranha:
Que canta alguma  lenda
Algum segredo que é melhor não descobrir
Alguma melodia que é melhor não cantar...

Pode ser uma beijo que nunca se quis
Um abraço frouxo e sem gosto...
Uma verdade que não se quer escutar...
Não sei. Escuta o som do vento...

Marilena



Marilena

Ressonância das coisas que ficaram
Nostalgia de encontros passados
Sequidão dos desejos que morreram

Iniciais de um nome numa carteira velha
Sinais de um amor ingênuo...
Que bom era nosso colégio, nossa fantasia!!

Uma alegria punida pelo tempo.
Amigos que se foram, que esquecemos...
Que se casaram, que se separaram...
Que não se lembram das promessas da juventude!!

Angústia insalubre perdida no cheiro de Avon
Quem não se lembra das balas de hortelã partilhadas?
Que delícia o doce de leite vendido no portão?
Marilena... Marilena... tão diferente... tão distante...

A vida é assim...



A vida é assim...


A vida é assim: Em certos momentos o tempero é a alegria que vem com uma pitada de sorte, recheada com muitas risadas e acompanhada de muita esperança que é uma bebida que nunca se acaba. 
Em outros momentos, não tem tempero e é como se fosse um picolé de chuchu. Há outros momentos ainda em que o tempero é a angústia, a incerteza, o arrependimento, o cansaço, a desilusão... (leva-se tudo ao - forno - tempo molhado com um pouco de lágrimas). 
Alguns seres humanos aprendem, crescem, mudam e caminham pra frente. Outros, morrem ou vegetam pra sempre.

Você é minha lágrima retida



Você é minha lágrima retida

Você é minha lágrima retida
Meu mal de ausência inconstante
Meu ritual de vida deflagrada

Você é o sonho que me atormenta
Nas noites  sem frenquência...
Meu dia sem vento, sem sol e sem mar...

Você é  o som das cordas sem o violino
Minha derradeira esperança na curva invisível
A marcha de uma vida que vai sem saber...

Você é a única lenda que meu coração conheceu...
O grande segredo que minha língua contará.
A sinfonia que minha linguagem nunca entoou...

A chuva




A chuva
... e o trovão avisa que a chuva já vem
Chegam os primeiros pingos, mais outros... mais... mais!!!
E eu assito a este espetáculo de minha janela, em silêncio...

Já é noite e os relâmpagos são fantásticos...
Mais trovões e as pessoas se apressam...
Alguém passa e eu, por um momento, me esqueço da chuva...

Enfim, é alguém que vai e some numa esquina qualquer...
É alguém que passa, como todos as outras coisas:
cachorros, gatos, carros, ônibus, bicicletas...
E então, me lembro da chuva, outra vez...

A chuva leva, lava, limpa e louva os trovões...
Sintonia de um clima romântico... muito romântico!!!
E então eu me lembro de muitas coisas...
Coisas que espero: sejam lavadas, levadas...

O Peregrino

O Peregrino


E disse-me com voz firme o peregrino: agora sabes qual é a relação entre a lua e uma semente (...) com igual intensidade deves saber que aquele homem e aquela criança que encontraste pelo caminho significam o sétimo arco que fora  precedido dos outros seis que já conheces...

Assim, percebi que o tempo tinha se acabado e tudo havia se perdido. Viver já tinha um gosto de não valer mais a pena. Então, descobri por que o arco íris tem sete cores e sempre aparece no céu em forma de arco...

É madrugada...





É madrugada...

Recordações de alguns encontros me surgem de  surpresa
Depois de muito tempo, as coisas mudaram e as vejo com tristeza
Coisas que eu não esperava tanto, mas não era para pranto e lamento...

São recordações de uma relação que perdeu o encanto
E para meu maior espanto, não sobrou sequer um verdadeiro olhar...
Se restou, foram pobres e inúteis objetos trocados em datas importantes...

Objetos que agora são ínfimas recordações e inspirações do desejo
Traduzidos nas lembranças, recordações, memórias e presentes...
Marcas de momentos e sentimentos lentamente conduzidos ao desterro
Momentos e matéria que aos poucos se esforçam para escapar de errôneas mentes

Cinzas de compromissos adiados e de tempos perdidos
Circunstâncias que movimentaram dois corpos comprimidos
Fogueiras que mostraram as sombras de um amor que talvez nem existiu
Momentos e declarações que o acaso com sua boca grande mastigou e engoliu...

A Nossa Sé



A Nossa Sé

Por onde anda aquela senhora que um dia na Nossa Sé bradava fervorosamente pela salvação da Casa Grande, da Senzala e, depois, pela redenção de todas as casas da América Latina? Ah! Esta senhora, depois, começou a dizer devaneios: "Este Leão é este Leão e aquele "outro Leão" é aquele "outro Leão!! "Um mata e é mau, o outro pode matar... e eu não tenho mais obrigação"

Por andam os dois senhores que na mesma Sé clamaram, gritaram, e bateram o pé por justiça, pela Pátria Amada e pela moral?! Que triste engano... A Nossa Sé continua  cheia de bestas e faltam tantos outros currais! O barulho está muito pior, a picanha é leiloada a preço de mocotó, a fumaça é de cegar...

Os "três socorristas" de outrora já parecem satisfeitos ou desistiram do  plantão! Por ora, a podridão da Nossa Sé se multiplica e o mal cheiro está desembarcando nas Sés acima da Linha do Equador ... pobres filiais que acreditaram... que dançaram, que apitaram, que se moveram!!! Pobres senzalas que resmungaram, que protestaram, que torceram!! No fim, "O engenho ao seu senhor!"

A quem buscais, senhora?


A quem buscais, senhora?


A quem buscais nesta hora agourada? Por que ergueis resoluta e imponente como se movêsseis o mundo? Porventura mais uma lágrima semelhantes àquelas que caíram ao talante da angústia que provocastes? A quem buscais senhora? Seria aquela por quem trocastes pelos ferros de cor azulada que adornam os jardins da escuridão? Preferis o portal e não te apiedastes dos últimos soluços que suplicavam misericórdia...

Não sabias, porventura, que o parque noturno da névoa fria não acalenta os habitantes perdidos? Acaso não sabias que as asas inertes que compõem as lápides das almas enganadas eram armadilhas? Sei bem, senhora, o que quereis. Mas se não sabes, o tempo já se passou e os sinos já não choram. Há, agora, o silêncio. Já não cantam os pássaros, já não florescem os ipês e a tarde é o símbolo dos "portantos"

Já não está mais aqui, senão lá, e agora no endereço para onde deveis seguir, já não soa a voz rouca e trêmula de um emissor moribundo... Os olhos cansados de outrora e desejosos da vossa presença, já não se acendem. Em vão se perderam gastando toda a fé e a esperança de vos ver retornar por onde um dia partistes decidida. Sem qualquer espeque que lhe garantisse o alívio da dor que lhe roía a alma, esvaneceu-se devagar à espera do segundo derradeiro... Deixou-vos um adeus e um lenço branco para consolares a vossa amargura, se é que sentes.

Certamente, quão grande foi o desejo de vos ver, senhora! Suplicou com extrema aflição e com toda a força que ainda lhe restava para que as últimas notas da vida que lhe escapava se alongassem por mais alguns instantes. Para ela, podia ser que nesses instantes prolongados aparecêsseis, senhora! No entanto, como vês, a sucessividade dos segundos tilintada na ausência tétrica impôs-se.  Tens agora o lenço!  Adornai a vossa testa pois já não há mais tempo...

Meu anjo



Meu anjo

E como uma noite,
adormeceu meu anjo...
serena, calma, doce...

Belíssima e vívida chegou,
e com os olhos colados aos meus,
suspirou, riu e aqueceu-me.

Como uma onda, cobriu-me,
levou-me e tornou-me,
cantou, gemeu e quedou-se
na mais serena calmaria.

Belíssima e inocente bebeu e cantou!!!
Mostrou-me o mar e a brisa,
Deixou-me sonhando com o céu!
Como a vida é bela!!

Descobrindo

Descobrindo

... "Um dia eu descobri que verdadeiramente o que acontece durante a trajetória - as emoções do percurso, a beleza do caminho - é o que importa: as desventuras, os sinais, os códigos, as quedas, as amizades e as inimizades. 

É a jornada da flecha que é bela, que faz brilhar os olhos das crianças e não o lugar onde ela cai. Foi assim que eu aprendi  que é preciso acreditar que o futuro será como deve ser."

A morte...

A morte...

A morte: estranha e incompreensível mensagem
Chega devagar e, sem um acordo, muda tudo
Estrada manifesta, desconhecida, confusa!

Se há ternura, desventura: impreciso saber...
Um solavanco e já não há o instante seguinte
Justo ou injusto, isso não basta. Vai-se!

Posta-se a imensidão vazia... fria... doída!
A angústia dos que ficam sem nunca entender.
O momento inexato da transição.
A cessação das vontades, dos desejos.

Um lugar, por certo, onde se vai sozinho
Cantando, calado, feliz: igualmente se vai!
No início, uma cruz. No final, uma luz...
Adeus Colô... adeus Colô!!

Procurando você

Procurando você


A chuva está forte
A rua tem muita água e molha meus pés 
A noite está inundada pelo meu desespero 

Pessoas passam apressadas
Em vão eu te procuro na multidão 
Onde estará você nesta noite fria?

Eu estou cansado
Existem vultos estranhos atrás de você 
Talvez você possa escapar mais uma vez
Sempre existe uma razão para suas mentiras 

Se eu não te encontrar,
Que você encontre algum conforto onde estiver 
Eu não sei por que ainda caminho 
Ninguém pode desejar meus desejos...

Eu existo



Eu existo

Não faz mal
Eu ainda tenho fé
Acompanha-me um cachorro

Você foi embora e eu tenho as montanhas
Ainda vivem os meus sonhos
Segue-me a simplicidade dos vales

Eu tenho o som rouco do vento
Tenho a vida, a chuva e o calor
Provas inexatas de uma saga florida
A ufania de um plano que afundou-se

Por um instante senti a tua presença
que já não tinha gosto e desejo
que não tinha ternura nem coração
que era seca, indiferente, feiticeira

Sucessão das coisas



Sucessão das coisas

Uma porta que se fecha
Uma bacia que voa
Uma galinha que corre

O vento que traz poeira
As árvores que se agitam paradas
As pessoas que correm

Enfim, os primeiros pingos, fortes!
Os primeiros trovões e seus flashes
É o temporal que vem do Norte
É a promessa da natureza...