quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Eis o que fiz....



(...) e então, eu me lembrei que no outono as folhas não caem porque querem. Já era tarde demais e não havia mais o que eu pudesse fazer. Sentei-me e chorei. Eis o que fiz.

Lembranças em um cartão

 Lembranças

... dou-me com um cartão velho e amarelado. Pois, lembrança de um aniversário que se foi, de um alguém que passou para deixar o desenho de uma florzinha que ainda não se desbotou. Com o coração enorme, insisto pelas páginas seguintes do velho livro encontrado na estante. Eis: uma foto - tempos de juventude, tempo de absoluta inexperiência e coragem de sobra! Como era belo e ainda inocente o sorriso!! Que pena, o tempo se encarregou de fazer alguns trincos no rosto!! Meu Deus! Por que certas coisas nos deixam marcas tão profundas!? 

Mais uma página e se apresenta, seca, uma folha de Momiji. Quanto tempo estava ali? Em qual outono foi colhida? Não sei. Sei que certamente o seu propósito era me dizer: "depois do outono, vem o inverno, o frio, a sequidão..." Boa noite...

Harmonia das horas


Harmonia das horas

Horas inexatas de uma Sintonia sem Dó
Fundamento de Acordes Ritmados na dor
Ausências de uma Melodia de contrapé


Assim foi sua Partitura "ma non troppo"
Que num Ritmo sem cadência deixou-me só
Embalando a Clave do vento e da maré...


Resta-me a distância infinita amarume
Semelhante a um Lá que nunca afina
A uma Fermata que agoniza e não termina
Acudida por uma Pausa quase implume!!


Por fim, à rima de dias sem Escalas e sem Pautas
Vou me consumindo à velocidade de Mínimas encurraladas
Sua Partitura encerrou-se e emudeceu minhas flautas
Foi o último solfejo das óperas desafinadas...

Sequência da vida

 Sequência da vida

Instantes imortais: é o que sobra da vida
Vida vivida, cantada, gastada... sofrida!
Sofrida, bela, encantada, delicada
Promessas quebradas, sussurradas, queridas
Inspiração irrigada, fortalecida, disfarçada...


Que dizer das aventuras de outrora?
Que dizer do medo que escurecia a alma?
Que dizer do arrependimento derradeiro?
Que dizer da nostalgia das poesias lindas?


Quantas juras findaram no fundo do quintal?
Tento disfarçar e meu peito grita, enlouquece...
Desejos que o Sr. Tempo encolheu e sucumbiu.

Cartas lidas, promessas feitas, desfeitas...

Azedume



Pelas ruas retas ou sinistras,
Eu bebo, fumo e falo bobagem
Fodam-se a moral, o Mauricinho e a Patrícia!
Eu sou eu: feito de carbono, álcool e banana!!


O resto é etanol e laranja descascada
Eu não quero saber se a rua é estreita
Quero é andar, tropeçar e me levantar por ela...
Com neve, sem neve, seca ou molhada...


Um dia serei matéria integrada
E a única certeza é a vida que levo.
E apesar dos portantos, entretantos e solavancos,
Não quero apenas ter passado por este mundo



Almas frias

Almas frias

Almas frias!! Hospedeiras das sombras!!
Por que adorais a ignorância como causa final?
Por que preferis a fé toldada na escuridão servil?
Por que o medo e os morcegos são vossas causas?


Por que venerais a cruz, uma coisa tão feia?
Por que fazeis das sepulturas vossos ideais?
Por que fazeis da lua escura vosso símbolo?
Oh! Ferros azuis e pretos adornam o vosso jardim!!

Acaso sabeis da existência do sol, dos pássaros e dos bichos?
Acaso sabeis dos estágios superiores, dos acordes afinados?
Sabeis da existência da vida, das montanhas e da alegria?
Sabeis que mesmo os bichos clamam pela alvorada?

Preferis a perdição dos góticos inferiores sem promessas...
Trocais a paz pela repugnância dos lodos fétidos...
São os vossos olhos sinfonias assombradas pelo mal...
Adorais o som rouco do vento que não move os taquarais!!

Sois os viajantes afogados no rio da passagem!!
Intimados a prestar contas aos anjos noturnos!
Acreditais na prevalência da morte destinada...
Na fatal agrura, escureceu o brilho da vossa mente...


Habitais a Caverna do engano sem direito a sonhar...
Esperais pelos guerreiros caídos que caçam almas...
Aqueles que marcham os solípedes da morte...
Irmãos das bestas fúnebres que se alimentam dos fracos.

Em breve, vossos caninos saltarão à procura de sangue...
Eis a vossa sina, timbrada com o selo da decadência...
Eis que a noite não tarda!! Corram!! Corram!!! Fujam!!
Ainda há um lugar onde o amanhecer é abril!!!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Você que não se explicar

 Você

Eu não sei explicar você...
É como as andorinhas que voltam,
É como o vento que vai
É como o barulho que ecoa...


É meio irmã, meio amiga, meio tudo
Meio cega, meio doida, meio você!
Meio minha, meio sua, meio nossa...


Assim é você: minha linda...

Não sei se quero, se deixo, se parto,
Meu dilema, minha paúra, minha...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Ao final dos dias


 Ao final dos dias

Ao final dos dias, as tardes sempre traziam você para mim e eu era feliz, meu coração sorria.

Numa praça, num ponto, numa rua: lá estava eu sempre a te esperar. Eu nunca tive pressa quando você demorava um pouco mais e meus olhos - como os olhos de um cão amigo - olhavam sempre na direção de onde você vinha, mas era meu coração quem sempre te via primeiro.

O mais curioso é que havia sempre um pressentimento - quase que como um prenúncio - segundo antes de você aparecer. Confesso que nunca pude entender isso.

Sua imagem, seu andar, seu cheiro, seu sorriso compunham a mais bela lua de todas as minhas noites! Nunca precisei das estrelas para admirar a beleza do espaço e das noites.


O tempo não era medido assim: manhã, tarde, noite, dias, semanas, meses e ano. Não! O tempo era nosso, dos nossos encontros, das nossas brincadeiras, das nossas alegrias e dos nossos planos para o futuro! Lembra disso?


Hoje, não quero mais ficar nos lugares de antes, tampouco quero olhar para o local de onde você vinha porque agora você conjuga o verbo ir e não mais o vir.


Agora, o Oeste traz as noites em teu lugar. Nem rio, nem choro: ainda há o silêncio do tempo, a beleza das montanhas, o eco dos vales, a luz dos vaga-lumes e a brisa companheira...


Um dia, eu sei: o Oeste vai fechar a porta e o sol não vai mais passar e, então, não terei mais medo das noites vazias...

Razão e coração




Meu coração pede você,
minha alma também
Mas a razão, esta senhora exigente,
Diz que não.

30 minutos... mais que um poema..

30 minutos... mais que um poema..

Sempre haverá alguém cuja presença ficará gravada como uma fotografia na alma da gente. É sempre alguém que me faz dormir sozinho e certamente sonhar que estou abraçado. 

Alguém que não há uma razão que me explique claramente o calor que arde como brasa dentro do peito. Por todos os lugares bonitos por onde olho, vejo esse alguém me recordando um dia frio na Austrália, uma boa conversa em um café em Kuala Lampur...  leves suspiros, desejos de viver eternamente!! 

 Quando estou em uma avião não é estranho sentir esse alguém do meu lado viajando comigo e partilhando os mesmos sonhos e ideais. 

Também ão é estranho estar em um hotel sozinho embalando uma cadeira na varanda e sentir a presença desse alguém, bem junto de mim. Sim! Ali, sorrindo e pedindo um abraço apertado, um beijo demorado ... Isso é tão real que minha lucidez e loucura se confundem.

Não quererei mais alguém, por certo, porque já não há gosto, cheiro, importância... Se um dia eu ficar louco, que seja pela lucidez de ter te amado devagar... de ter te visto nas montanhas colhendo flores e se divertindo com as borboletas, de ter te sentido no barulho calmo da chuva, de ter visto o teu sorriso no arco-íris, de querer estar ao teu lado, não apenas por 30 minutos, mas uma vida, metade de outra e mais uma...

Não é a sua simples existência que tornou meus monólogos especiais, se não fosse o sentido síntese que você adquiriu para mim. Que seja amarga, doce ou sem gosto... isso será sempre uma prova da antítese encalacrada que vivi todos os meus dias...