quarta-feira, 22 de setembro de 2010

História da padaria

História da padaria


Hoje, dia 14 de maio de 2010, estava em um barzinho com um amigo alemão. Falamos sobre planos para o futuro, sobre aulas na universidade e depois sobre a vida no Japão. Ele relatou um fato muito curioso que achei legal escrever aqui. É o seguinte: 



Todos os dias, quando ele vai à universidade, ao passar pela Estação de MusashiSakai, onde toma um outro trem, ele compra pão em uma padaria que há na estação. Por sete anos seguidos, quase todos os dias, ele entra na mesma padaria, compra pão e depois, vai à universidade. Mas o que há de interessante nisto? Para um desatento, não haverá qualquer coisa interessante aí. Entretanto, assim como na relação com o outro, nada poderá existir, haverá sempre alguém que possa ver nesta mesma relação, alguma coisa de humano ou de desumano... e, no segundo caso, isso é muito triste...


 Bem, no caso deste meu amigo, ele começou a prestar atenção em algumas coisas: as pessoas que trabalham nesta padaria são sempre as mesmas em todo este tempo. Além disso, ele começou a perceber que estas pessoas nunca fizeram qualquer gesto facial, linguístico ou qualquer outra menção de um reconhecimento em relação à pessoa dele. É como se ele fosse transparente, não existisse... Então, ele começou a entender que sua existência nunca fora reconhecida ou percebida ali naquele espaço da padaria, apesar dos 07 anos. Ou seja, sete anos não foram ainda necessários para que estas três pessoas percebessem que ele existe, que ele é um ser humano e que quase todos os dias, durante sete anos, passa por ali para comprar pão... Será que da perspectiva destas três pessoas ele realmente existe? indagava ele. É claro que ele estava falando em um tom um pouco exagerado, mas também com um sentimento de tristeza. Triste, não porque as pessoas tivessem a obrigação de reconhecê-lo, mas pela falta de sentimento, de solidariedade humana, pela presença do corpo-robô, pelo vazio que estas pessoas manifestavam...

Bem, pôr-se no lugar do outro para compreender e experimentar (nunca na mesma intensidade) o que o outro sente, é um dos exercícios mais difíceis desta vida...

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