domingo, 22 de setembro de 2019

A quem buscais, senhora?


A quem buscais, senhora?


A quem buscais nesta hora agourada? Por que ergueis resoluta e imponente como se movêsseis o mundo? Porventura mais uma lágrima semelhantes àquelas que caíram ao talante da angústia que provocastes? A quem buscais senhora? Seria aquela por quem trocastes pelos ferros de cor azulada que adornam os jardins da escuridão? Preferis o portal e não te apiedastes dos últimos soluços que suplicavam misericórdia...

Não sabias, porventura, que o parque noturno da névoa fria não acalenta os habitantes perdidos? Acaso não sabias que as asas inertes que compõem as lápides das almas enganadas eram armadilhas? Sei bem, senhora, o que quereis. Mas se não sabes, o tempo já se passou e os sinos já não choram. Há, agora, o silêncio. Já não cantam os pássaros, já não florescem os ipês e a tarde é o símbolo dos "portantos"

Já não está mais aqui, senão lá, e agora no endereço para onde deveis seguir, já não soa a voz rouca e trêmula de um emissor moribundo... Os olhos cansados de outrora e desejosos da vossa presença, já não se acendem. Em vão se perderam gastando toda a fé e a esperança de vos ver retornar por onde um dia partistes decidida. Sem qualquer espeque que lhe garantisse o alívio da dor que lhe roía a alma, esvaneceu-se devagar à espera do segundo derradeiro... Deixou-vos um adeus e um lenço branco para consolares a vossa amargura, se é que sentes.

Certamente, quão grande foi o desejo de vos ver, senhora! Suplicou com extrema aflição e com toda a força que ainda lhe restava para que as últimas notas da vida que lhe escapava se alongassem por mais alguns instantes. Para ela, podia ser que nesses instantes prolongados aparecêsseis, senhora! No entanto, como vês, a sucessividade dos segundos tilintada na ausência tétrica impôs-se.  Tens agora o lenço!  Adornai a vossa testa pois já não há mais tempo...

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