A quem buscais, senhora?
A quem buscais nesta hora agourada? Por que ergueis
resoluta e imponente como se movêsseis o mundo? Porventura mais uma
lágrima semelhantes àquelas que caíram ao talante da angústia que
provocastes? A quem buscais senhora? Seria aquela por quem trocastes
pelos ferros de cor azulada que adornam os jardins da escuridão?
Preferis o portal e não te apiedastes dos últimos soluços que suplicavam
misericórdia...
Não
sabias, porventura, que o parque noturno da névoa fria não acalenta os
habitantes perdidos? Acaso não sabias que as asas inertes que compõem as
lápides das almas enganadas eram armadilhas? Sei bem, senhora, o que
quereis. Mas se não sabes, o tempo já se passou e os sinos já não
choram. Há, agora, o silêncio. Já não cantam os pássaros, já não
florescem os ipês e a tarde é o símbolo dos "portantos"
Já
não está mais aqui, senão lá, e agora no endereço para onde deveis
seguir, já não soa a voz rouca e trêmula de um emissor moribundo... Os
olhos cansados de outrora e desejosos da vossa presença, já não se
acendem. Em vão se perderam gastando toda a fé e a esperança de vos ver
retornar por onde um dia partistes decidida. Sem qualquer espeque que
lhe garantisse o alívio da dor que lhe roía a alma, esvaneceu-se devagar
à espera do segundo derradeiro... Deixou-vos um adeus e um lenço branco
para consolares a vossa amargura, se é que sentes.
Certamente,
quão grande foi o desejo de vos ver, senhora! Suplicou com extrema aflição e com toda a força que ainda lhe restava para que as últimas notas da vida que lhe escapava se alongassem por mais alguns instantes. Para ela, podia ser que nesses instantes prolongados aparecêsseis, senhora! No entanto, como vês, a
sucessividade dos segundos tilintada na ausência tétrica impôs-se. Tens
agora o lenço! Adornai a vossa testa pois já não há mais tempo...
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